Após 44 anos no Brasil, o músico Yoshiya Kusamura, ao lado de sua esposa, a pianista Ai Yazaki, e os filhos, está prestes a se despedir do país, rumo à Austrália.

No último encontro com o palco brasileiro, dia 23 de janeiro, no Tonton Jazz, em Moema, São Paulo, Kusamura e Yazaki concederam entrevista exclusiva ao portal Yomitai para falar sobre os anos que viveram no Brasil, as importantes conquistas que aqui tiveram e muito mais.

Confira a entrevista com Yoshiya Kusamura e Ai Yazaki:

Yomitai: Como e quando vieram para o Brasil e por qual motivo?

Yoshiya Kusamura: Eu vim para o Brasil com 10 anos, junto com meus pais. Já estudava música no Japão, mas na verdade minha primeira intenção ao vir para cá era de ser físico, mas acabei migrando para a música.

Ai Yazaki: Eu vim com 18 anos, já adulta. Comecei a tocar piano com 5 anos, depois conheci a música brasileira e pensei em estudá-la em São Paulo. Primeiramente morei em Mirandópolis, numa comunidade chamada Yuba. Depois mudei para a capital com 20 anos, entrei em uma escola de música, comecei a tocar numa banda japonesa, quando conheci o Yoshiya e começamos a trabalhar juntos. Ele me orientou sobre como viver de música no Brasil e assim se passaram 20 anos que estou aqui.

Yomitai: Vocês são de que província do Japão?

Yoshiya: Sou de Tóquio.

Ai: Eu sou de Niigata.

Yomitai: Ao longo desses anos no Brasil, quais foram os principais trabalhos realizados?

Yoshiya: Eu gravei alguns CD’s, lancei um CD nos EUA, em Ohio, há um tempo. Fora isso, acompanhava cantores em shows pequenos.

Ai: Eu fiz dois CD’s meus. O primeiro com minhas composições. O segundo foi uma homenagem à Joao Donato, um dos nomes mais importantes da música popular brasileira. Ele participou de 4 músicas deste CD, fizemos em 4 mãos tocando piano, as demais músicas são de piano solo, outras com a banda. O Yoshiya é fotografo, saxofonista, baixista. No começo, ele quem me ensinou tudo, tocávamos sempre juntos, fazíamos uns 200 shows por ano, antes de nascerem nossos filhos.

Yomitai: Após um longo período no Brasil, vocês estão se despedindo para morar na Austrália. Por quê?

Yoshiya: Minha irmã mora lá há 10 anos e sempre me convidou para morar com ela, mas não queria abandonar a carreira musical no Brasil. Quando as crianças nasceram eu comecei a mudar de ideia porque as coisas aqui no Brasil são muito difíceis, como a educação, a saúde. Então minha irmã disse que está abrindo um estúdio de foto e perguntou se queria trabalhar com ela e eu aceitei. Fui lá para conhecer e me apaixonei. Não que não goste do Brasil, mas essas questões práticas foram relevantes para a escolha. Morando aqui a gente não consegue ser do mundo, somos apenas do Brasil. A vida para o músico, no Brasil, ficou mais difícil.

Ai: Nos anos 2000, o real era mais valorizado, então podíamos viajar mais, ir ao Japão fazer turnê, como fizemos duas vezes quando fomos para Tóquio, Yokohama, Nagoya, Niigata, Okinawa, mas hoje o real caiu muito e é muito difícil tocar fora e mostrar nosso trabalho. Além disso, tenho minha família no Japão e minha mãe está super feliz porque estarei bem mais perto.

Yomitai: Voltando a falar sobre música, quais são suas influências musicais, o que gostam de ouvir?

Yoshiya: Eu ouço de tudo. Na verdade, minha formação na faculdade é de música erudita, mas minha bagagem é mais popular, então varia. Gosto de jazz, instrumental, fusion, pop, música brasileira, bossa nova, samba. Gosto muito de Milton Nascimento, ele é um gênio, uma pessoa respeitada no mundo inteiro. Gosto também de Tom Jobim, Ivan Lins, Flavio Venturini, João Bosco, Chico Buarque, da MPB da década de 80, época de uma riqueza cultural incrível. Pixinguinha e Cartola também são grandes ídolos meus.

Yomitai: Para finalizar, o que vão levar do Brasil para a Austrália?

Yoshiya: A cultura brasileira é muito interessante, algo ímpar. A cultura musical também. A Austrália é um pais mais frio e nessa questão o Brasil é um país maravilhoso. Acho que é isso, como vivi muito tempo aqui já sou um brasileiro.

Ai: Aqui no Brasil tem muito amor, as pessoas são muito amorosas, muito diferentes do Japão. Lá tudo funciona, mas tem uma cultura muito fria. Aqui a gente sente muito o amor das pessoas e isso que aprendi muito. Mas a gente vai voltar para cá sempre. Ele (Yoshiya) tem família aqui, eu tenho parentes também e nossos filhos nasceram aqui.

Confira fotos da apresentação da banda Quase Lá, com Yoshiya Kusamura e Ai Yazaki: