Com a aproximação da Olimpíada de Tóquio, que ocorre no próximo mês de julho, a Fundação Japão promove, até 28 de março, em sua biblioteca, uma variada programação sobre os jogos olímpicos, como a exposição de trabalhos dos finalistas do Concurso de Desenho da instituição, workshops e palestras sobre as modalidades esportivas, a começar pelo judô, com o Prof. Fernando Ikeda. 

A primeira palestra da série de quatro encontros ocorreu neste sábado, 8 de fevereiro, sob o comando do professor de judô, Fernando Ikeda, mestre em Educação Física pela Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo, coordenador do departamento de oficiais técnicos da Federação Paulista de Judô e membro do Tribunal de Justiça Desportiva da Federação Paulista de Judô.

Ikeda palestrou sobre o tema “Judô: a origem e trajetória olímpica” e passou pela história do surgimento da arte marcial, no Japão, através do mestre Jigoro Kano (1860~1938), praticante de jiu-jitsu e fundador da academia Kodokan Judô, no ano de 1882, até os dias atuais, com informações sobre os critérios da modalidade nas olimpíadas.

Este ano, 386 atletas devem participar dos jogos olímpicos, em Tóquio. Em maio, serão definidos os atletas integrantes das 14 categorias, divididas igualmente entre feminino e masculino, em que cada uma delas terão os 18 melhores atletas do ranking, com apenas 1 representante de cada comitê olímpico.

Além disso, haverá a classificação continental dos 100 atletas melhores ranqueados de cada continente. Dentre elas, 14 vagas são direcionadas para o país sede e outras 20 para convidados da comissão tripartite, ou seja, de países que nunca participaram desta modalidade.

Em 2020, a competição será disputada por equipes, com 3 categorias da equipe feminina e masculina: -57kg, -70kg, +70kg e -73kg, -90kg e + 90kg, respectivamente. Para participar das equipes é necessário que os países tenham atletas com estes pesos, na disputa individual.

Durante a palestra, o Prof. Fernando Ikeda explicou que, apesar de atualmente e em termos populares, o judô ser reconhecido como um esporte, existe uma forte essência educacional por trás da modalidade:

– A motivação principal do judô é a de superar seus próprios limites, não importa onde você esteja, seja no judô tradicional, no de alto rendimento ou educacional, é sempre a superação dos seus próprios limites. O judô como esporte é apenas uma parte ou uma forma de observar o judô como um todo – explicou.

Ikeda lembrou que, quando iniciou a prática do judô, aos 4 anos de idade, com o mestre Massao Shinohara, entendia a atividade como uma modalidade esportiva e que, após conquistar a faixa preta, passou a entender as questões filosóficas que a arte possui como base.

– Eu tive de desconstruir toda essa parte. Minha trajetória no judô foi de construir uma forma tradicional para entender o judô esportivo em forma de treinamento. Tive uma história de 10 anos na parte acadêmica, que foi um trabalho de desconstrução, reconstrução e ressignificação muito grande – revelou o professor.

No encontro, Fernando Ikeda comentou que o mestre Jigoro Kano era um tanto contraditório quando pretendia fazer com que o judô se tornasse conhecido no mundo. Ele era relutante sobre a entrada da arte marcial nos jogos olímpicos e afirmava que o judô não era um esporte, mas uma arte.

– Meu maior desafio hoje é tentar conciliar os objetivos com o processo: competir ou aprender judô são duas coisas que não se misturam. Não posso usar o processo de um para atingir o objetivo do outro porque não vai dar certo – comparou Ikeda, que compartilhou o legado deixado pelo seu mestre:

– Em conversas com meu sensei, aprendi que várias atitudes que nós temos não têm que se restringir ao dojo (academia), mas precisam ser transformadas para o lado de fora, como a cordialidade, disciplina, se preocupar com as outras pessoas, perceber que tenho que ajudar o outro para eu crescer, ter objetivos. Essa foi a maneira que o judô entrou na minha vida e eu adotei como parte da minha filosofia de vida.