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29.03.19

Vitoru Kinjo lança ‘Flores para o coração da gente’ no Itaú Cultural

A noite de lançamento do novo single de Vitoru Kinjo, “Flores para o coração da gente”, em 14 de março, não foi um simples e previsível encontro de quem deseja mostrar seu mais novo trabalho ou daquele fã, ansioso para cantar as músicas junto de seu ídolo.

O auditório do Itaú Cultural foi palco de uma verdadeira manifestação daquilo que, atualmente, o mundo mais sofre de carência: a simplicidade do sentimento de amar, em sua mais pura e livre essência.

Em pouco mais de uma hora e meia de show, Vitoru e sua banda embalou o público com músicas autorais, do álbum “Vitoru Kinjo”, lançado em 2017, e apresentou seu mais novo trabalho “Flores para o coração da gente”, uma versão da música “Hana”, composta pelo okinawano Shoukichi Kina, um pacifista e ativista pelo fim das bases militares nortes-americanas instaladas em Okinawa, logo após a Segunda Guerra Mundial.

– Eu conheci essa canção quando fui para Okinawa, em 2009, pela primeira vez na vida. Tinha acabado de perder meu avô paterno e foi necessário ir até lá, conhecer a sua terra, a nossa terra – lembra Vitoru Kinjo.

Para Kinjo, a viagem à Okinawa, terra de seus ancestrais, trouxe o sentimento de estar em um local familiar, mesmo nunca antes a visitado, além de um encantamento pelas músicas regionais, incluindo Hana, muito conhecida pela interpretação da cantora Natsukawa Rimi, que esteve no Brasil, pela primeira vez, em novembro do ano passado e lotou dois shows em São Paulo.

Mestre em Sociologia e Doutor em Ciências Sociais pela Unicamp, Vitoru Kinjo conta que a versão em português de Hana é um convite para a reflexão sobre o caminho em busca de paz, seja ela a paz interior de cada ser humano ou entre as relações interpessoais.

– Shoukichi Kina e a nossa história nos ensina o valor da paz. A gente está nesse momento no mundo e no Brasil, indo para um caminho bélico. A gente tem que lembrar de cultivar a paz e isso demanda respeito, empatia, enfim, estamos nesse aprendizado – explica o pesquisador.

Uma semana depois de lançar seu novo single de trabalho, o artista esteve na Japan House, em 20 de março, para palestrar sobre o tema “Música popular nipo-brasileira: cultura e identidade no século XXI”, evento realizado da Fundação Japão.

Na ocasião, Vitoru Kinjo apresentou uma reflexão sobre os temas de duas pesquisas que realizou, sendo a primeira durante o doutorado em Ciências Sociais, “Cantos da Memória Diáspora”, defendida em 2015, na Unicamp. A segunda pesquisa refere-se ao seu mais recente projeto artístico “O mundo é um”, que trata sobre a identidade, diversidade e sustentabilidade na sociedade contemporânea.

Kinjo apresentou nomes de artistas que deram o pontapé na difusão e na miscigenação das culturas brasileira e japonesa, no Brasil, além de citar os maiores representantes da comunidade japonesa, desde a década de 50 até a atualidade, em se tratando do meio musical.

O primeiro citado foi Nobuo Aguena, um nikkei do bairro da Casa Verde, zona norte de São Paulo, mestre e compositor de sanshin, o instrumento de três cordas, típico da ilha de Okinawa.

– Ele compunha canções sobre suas experiências no Brasil, misturando o uchinaguchi, o dialeto de Okinawa, o japonês e o português. Usava a estrutura e a sonoridade da poesia da música okinawana para cantar sobre as dificuldades dos imigrantes, a saudade de Okinawa e as belezas de sua nova morada – pontuou.

No encontro, Kinjo não poderia deixar de citar uma das principais nikkeis brasileiras, a atriz, cantora e apresentadora Rosa Miyake, que comandou o programa Imagens do Japão por cerca de 30 anos. Miyake chegou a se apresentar no programa de Roberto Carlos e aproveitou o ensejo para convidá-lo a participar de seu programa, quando o ensinou a cantar a clássica “Sukiyaki Song”, em japonês.

Rosa Miyake também gravou a música “Urashima Taro” para um comercial da companhia de viagem, Varig, que na época promovia o vôo direto de São Paulo ao Japão. A música tornou-se popular em todo o país e fez com que o povo passasse a cantar pelas ruas por onde passavam.

Também foram citados os nomes de Yoko Abe, que interpretou uma versão em português, japonês e inglês, de “Lampião de gás”, original de Inezita Barroso, na transição das décadas de 50 e 60, e a partir dos anos 90, artistas como Curumin, Dan Nakagawa, Dudu Tsuda e os principais da atualidade, Fernanda Takai e Joe Hirata.

Apesar de tantas manifestações que intensificam a possibilidade de integração das culturas brasileira e japonesa, um dos principais obstáculos enfrentados pelos descendentes de japoneses, por exemplo, é a questão da identidade, de serem aceitos como são, sem diferenciação, sem exclusão, sem gozação.

– Comecei a cantar em japonês aos 7 anos, mas não contava aos meus colegas que cantava em japonês. Anos depois me dei conta de que tinha vergonha e depois entendi que a gente era uma minoria étnica – disse Kinjo, que acreditava que, quanto mais estudasse, maior seria a chance de encontrar uma solução para os problemas do país, quando, mais tarde, soube que as coisas eram mais complexas do que imaginava.

Apesar disso, suas pesquisas o fizeram compreender a importância da ancestralidade, de reconhecer e identificar as origens próprias e de cada ser humano, para a descoberta da real identidade, além do principal ponto em comum entre as pessoas:

– A gente é feito dessas águas, todos temos ancestrais comuns, alguns mais distantes, outros mais próximos. Não estamos sozinhos, lá no fundo temos raízes comuns e água. Cuidemos das águas do nosso mundo, das nossas águas interiores, dos nossos rios e mares – finalizou.

Confira a galeria de fotos dos eventos:

  • Vitoru Kinjo homenageia Marielle Franco, em show no Itaú Cultural (Foto: Yomitai | Estação Multimídia)
  • Show de Vitoru Kinjo no Itaú Cultural (Foto: Yomitai | Estação Multimídia)
  • Show de Vitoru Kinjo no Itaú Cultural (Foto: Yomitai | Estação Multimídia)
  • Vitoru Kinjo lança single no Itaú Cultural (Foto: Yomitai | Estação Multimídia)
  • Vitoru Kinjo em show no Itau Cultural (Foto: Yomitai | Estação Multimídia)
  • Vitoru Kinjo em show no Itau Cultural (Foto: Yomitai | Estação Multimídia)
  • Vitoru Kinjo em show no Itau Cultural (Foto: Yomitai | Estação Multimídia)
  • Vitoru Kinjo lança Flores para o coração da gente no Itaú Cultural (Foto: Yomitai | Estação Multimídia)
  • Vitoru Kinjo palestra na Japan House São Paulo (Foto: Yomitai | Estação Multimídia)

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